sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

OS IMPERADORES DO BRASIL E A EGIPTOLOGIA










D.PEDRO I


Aconselhado por JOSÉ BONIFÁCIO DE ANDRADA E SILVA, mandou arrematar no leilão da Alfândega do Rio de Janeiro, em 1827, peças originais egípcias trazidas por  NICOLAU FIENGO  da França, por encomenda do ditador argentino  D.JUAN MANUEL DE ROSAS.
Eram objetos de um extinto museu de antiguidades gregas e egípcias, trazidas de Marselha.


Como, ao chegar a Buenos Aires, ROSAS havia sido deposto, o governo sucessor não quis sustentar os compromissos da compra.
FIENGO as trouxe para o Rio de Janeiro e abandonou-as na alfândega, indo para a Bahia.


Essas peças estão expostas nas salas  HUMBOLDT  e  CHAMPOLLION, no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, que outrora fora residência de D.JOÃO VI enquanto esteve no Brasil.












DOCUMENTO NO ARQUIVO DA DIVISÃO DE ANTROPOLOGIA DO MUSEU NACIONAL :


 "Atendendo ao que Me representou Nicolau Fiengo, que propôs a venda das Antiguidades Egípcias, já depositadas no Museu Nacional desta Côrte :  Hei por bem que pelo  Tesouro Público se pagou ao dito  Nicolau Fiengo s quantia de cinco contos de réis em que ele avaliou as referidas antiguidades ; verificando-se o pagamento desta compra o prazo de seis, doze e dezoito meses.  O  Marquês de Queluz do Meu Conselho de Estado,  Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros,  Encarregado interinamente dos da Fazenda, o tenha assim entendido e faça executar com os despachos necessários.
Palácio do Rio de Janeiro em três de Abril de mil oitocentos e vinte e sete, sexto da Independência e do Império.
[ Rubrica do Imperador ] / (ao) / Visconde de São Leopoldo /
Cumpra-se, e registre-se, Rio de Janeiro, em 10 de abril de 1827 /  (as.)  Queluz."









   

ALBERT  CHILDE
Conservador-chefe da secção, decifrou os hieróglifos dos sarcófagos, estelas, fez estudos e catalogações.

Obras :

LADISLAU NETO  -  "Investigações Históricas sobre o Museu Nacional"  -  Rio, 1870.

J.BATISTA DE LACERDA  -  "Fatos do Museu Nacional do Rio de Janeiro"  -  Imprensa Nacional, Rio, 1905 
















D.PEDRO II





Tornou-se um  'egiptófilo'. 
As provas são anotações em 3 cadernetas de  Notas de Viagens,  no Arquivo da Família Imperial no Museu Nacional de Petrópolis.



D.PEDRO II  realizou duas viagens ao Egito :

a primeira em 1871  - 
de 25 de maio de 1871  a  30 de março de 1872 ,
visitou a Europa, Egito, Palestina e Ásia Menor.

A 1ª caderneta contém 40 páginas de texto à lápis :
      são dados relativos ao Cairo,
                                               Alexandria,
                                               e curta subida ao Nilo, até Mênfis.
São notas destinadas à Condessa de Barral e de Pedra Branca.

D.PEDRO desembarcou em Alexandria em 28 de outubro de 1871  -  aí  recebeu notícias, por despachos privativos, da  "Lei do Ventre Livre", sancionada pela Princesa ISABEL a 28/09/1871.


O registro iniciou-se no Cairo, em 03 de novembro de 1871.
Em 11 de novembro deixa Alexandria rumo a Brindisi  (Itália).



Posteriormente faz referências a
HENRI BRUGSCH   (alemão /  Diretor da Biblioteca do Instituto de Alexandria)  e
AUGUST  MARIETTE   (francês /  Diretor do Museu de Bulaq).
Estes foram condecorados com a  "Ordem da Rosa", comprovado pela carta de  28 de novembro de 1874 endereçada ao  Visconde do Bom Retiro.




A 1ª caderneta foi copiada pelo  Visconde de TAUNAY.
Seu filho  AFFONSO DE ESCRAGOLLE TAUNAY, com permissão da  Princesa  ISABEL, publicou-a na
"Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro"  -  Tomo 72, p. II, volume 120, 1909.

O  "Anuário do Museu Imperial"  -  volume VIII de 1947  [Rio, 1950]  transcreveu parcialmente as anotações.




Temos fotografias, conservadas no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,  do Imperador, da Imperatriz, do Visconde do Bom Retiro e de Itaúna, de D. JOSEFINA DA FONSECA COSTA  (dama da Imperatriz), AUGUST MARIETTE,  HENRI  BRUGSCH  e outros, aos pés da Esfinge e Pirâmides de Gizé.






As outras duas cadernetas :

A 2ª caderneta inicia anotações em 26 de março de 1876 a 26 de setembro de 1877.
Está escrita em francês.
D.PEDRO  subiu o Nilo a bordo do vapor  "Fércuz"(= Turquesa), desde o Cairo até Assuan.
Chegou à ilha de Filas (Filae) e à  2ª catarata.
Estas anotações são mais minuciosas quanto à descrição dos monumentos de Luxor, Karnak e Filas.

O  Quediva ISMAIL  presenteou-o com o ataúde da cantora  SHAMAMENSUT, da época Saíta  (XXVI Dinastia).






Ataúde da cantora SHAMAMENSUT, contendo a sua múmia. 













Entre 30 de junho de 1887  a  05 de setembro de 1888,  quando pela terceira vez foi à Europa, embora para tratamento de saúde, pensou em retornar ao Egito  :  mas pelas precárias condições financeiras não pôde realizar esse desejo.

Com a proclamação da República, em 1889, a família real foi banida do Brasil.
D.PEDRO viveu exilado em Paris, onde faleceu em 1891.













Lamentavelmente todo esse preciosíssimo acervo histórico virou cinzas no incêndio que devastou o Museu Nacional, em 2019.  Dele só restam poucas fotografias.